Na prática, isso abre caminho para uma ação militar maior de Tel Aviv contra os fundamentalistas xiitas apoiados, assim como o grupo terrorista palestino, pelo Irã. Até aqui, a justificativa formal da guerra era destruir as capacidade militares do Hamas e libertar os reféns feitos pelo grupo
(FOLHAPRESS) - O premiê Binyamin Netanyahu incluiu nesta terça (17) a volta dos moradores que foram retirados de sua casa devido a ataques do grupo libanês Hezbollah no norte de Israel como uma nova prioridade na guerra que o Estado judeu trava contra o Hamas palestino há quase um ano.
Na prática, isso abre caminho para uma ação militar maior de Tel Aviv contra os fundamentalistas xiitas apoiados, assim como o grupo terrorista palestino, pelo Irã. Até aqui, a justificativa formal da guerra era destruir as capacidade militares do Hamas e libertar os reféns feitos pelo grupo.
A medida, anunciada após uma reunião noturna do gabinete de Netanyahu, é também um passo adicional na pressão pela saída do ministro da Defesa, Yoav Gallant, visto no exterior como um anteparo racional aos extremistas religiosos que dão suporte ao primeiro-ministro.
Gallant tem insistido em uma saída para a guerra em Gaza, que já matou mais de 40 mil pessoas e foi disparada pelo ataque do Hamas contra civis israelenses em 7 de outubro do ano passado. Tão importante quanto, ele é contrário a uma segunda guerra aberta contra o Hezbollah.
A questão do norte, contudo, é menos polêmica em termos de opinião pública. Desde que a mais recente guerra aberta entre Israel e o Hezbollah acabou em um empate com sabor de vitória para os libaneses, em 2006, um tira-teima é visto como inevitável e há apoio popular para isso.
Quando a guerra em Gaza começou, o Hezbollah passou a escalar seus ataques usuais na fronteira, atraindo recursos militares israelenses como forma de apoiar o Hamas. Mas não entrou no conflito de cabeça, até porque mesmo seus patronos no Irã são reticentes acerca de uma guerra ampla.
Isso dito, o grupo libanês é bem mais poderoso militarmente do que o Hamas, e comanda um arsenal estimado em qualquer coisa de 150 mil a 200 mil mísseis e drones. Ao longo deste ano de guerra, houve vários momentos em que o caldo quase desandou.
O mais recente foi após o assassinato duplo do líder do Hamas em Teerã e de um comandante do Hezbollah, em Beirute, no fim de julho. Enquanto o Irã ainda não executou a prometida vingança, Israel fez um ataque preventivo antes de os libaneses lançarem a sua, no fim de agosto.
O resultado foi uma troca considerável de fogo, mas que acabou contida novamente. Desde então, Netanyahu tem aumentado a retórica contra o Hezbollah, agradando a base religiosa que o apoia e que quer ver o atual conflito como um acerto de contas geral de Israel com seus inimigos.
Em troca, o premiê ganha sobrevivência política, segundo seus adversários o único real objetivo de sua campanha militar que começou de forma incontestavelmente justificada, após a barbárie do 7 de outubro.
Gallant, um interlocutor respeitado no Ocidente, é também um rival interno de Netanyahu no partido direitista Likud. Seu provável substituto, segundo a imprensa israelense, é o parlamenta de oposição Gideon Sa'ar.
Reportagem do jornal Haaretz diz que o movimento visa também acalmar os aliados de Netanyahu devido à polêmica decisão de obrigar os judeus ultraortodoxos a servir no Exército. Isso pode ser revogado, e a publicação afirma que Sa'ar e o premiê já debatem um novo nome para o Estado-Maior das Forças Armadas.
Seja como for, a questão no norte segue inconclusa. Israel isolou uma área na fronteira, levando inicialmente 20 mil pessoas a deixarem suas casas. As crescentes escaramuças na região levaram um contingente adicional estimado ente 40 mil e 60 mil moradores a serem evacuados.
Essas pessoas moram em hotéis e pensões pagas pelo governo, ou em casas de amigos e parentes, e são fonte de insatisfação adicional contra o governo, já pressionado por não conseguir um acordo para soltar os 97 reféns ainda em poder do Hamas, dos quais 64 devem estar vivos segundo as estimativas das Forças Armadas.
Netanyahu já disse que o Hezbollah precisa se contido na fronteira definida por acordo com a ONU, ao norte do rio Litani, no Líbano, deixando a zona que em tese deveria ser controlada por forças internacionais no sul do país árabe, criando um tampão de segurança separando os fundamentalistas de Israel.
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