A pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (19) mostra que os eleitores Bolsonaro se dividem entre Nunes (40%) e Marçal (41%)
Fernando Frazão/Agência Brasil |
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após as recentes declarações de Ricardo Nunes (MDB) sobre imunizantes da Covid a canais conservadores, integrantes da sua campanha falam em ajustes, explicações e estratégias para reforçar a posição pró-vacina e rebater o que os adversários viram como um embarque no negacionismo de Jair Bolsonaro (PL). Os aliados do prefeito, porém, negam que haja uma crise.
As falas de Nunes provocaram reclamação na ala de centro-direita da campanha, principalmente entre emedebistas, enquanto foram comemoradas pela parcela bolsonarista da equipe. Em uma coligação de 12 partidos, o prefeito tem que se equilibrar em acenos para todos os lados, conforme resumiu um aliado do candidato à reeleição.
Em meio à disputa com Pablo Marçal (PRTB) pelo eleitor conservador, Nunes deu entrevistas, na última semana, ao blogueiro Paulo Figueiredo (neto do último presidente da ditadura militar brasileira) e ao podcast Te Atualizei.
A pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (19) mostra que os eleitores Bolsonaro se dividem entre Nunes (40%) e Marçal (41%). O ex-presidente, que vinha mantendo um vaivém com ambos, reforçou em vídeo, na sexta-feira (20), seu apoio ao prefeito e criticou o influenciador.
Aos interlocutores bolsonaristas o prefeito disse se arrepender de ter defendido a obrigatoriedade da vacina e o fechamento do comércio durante a pandemia, entre outros temas caros para esse público, como admitir a possibilidade de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Embora minimizem eventuais efeitos eleitorais negativos, integrantes da campanha de Nunes preveem a necessidade de um reposicionamento –que começou a ser feito em entrevista à imprensa, na quinta, e no debate do SBT, no dia seguinte.
Emedebistas questionam o porquê dos acenos bolsonaristas no momento em que Marçal estagnou (19% no Datafolha) e o prefeito se distanciou à frente (27%). Além disso, dizem acreditar que o eleitorado radical vai escolher Marçal de qualquer forma, mas fatalmente votará em Nunes num segundo turno contra Guilherme Boulos (PSOL, com 26%).
As falas deram força à estratégia de polarização nacional de Boulos, que busca ligar Nunes a Bolsonaro, rejeitado por 63% do eleitorado. "Temos alguém que é negacionista no comando da prefeitura", declarou o candidato do PSOL após o debate na sexta.
Para os bolsonaristas que cercam Nunes, o gesto foi fundamental. Eles avaliam que ainda há risco de recuperação de Marçal e que o eleitorado do emedebista é volátil. A cobrança para que Nunes retribuísse o apoio de Bolsonaro era grande.
Aliados do prefeito dizem ser preciso destacar as nuances das falas de Nunes, difíceis de serem percebidas pelo grande público. Foi o que ele procurou fazer no debate, quando o tema foi mencionado por Boulos.
"Sou eu o prefeito que tornou São Paulo a capital mundial da vacina. O que eu falei é que a gente precisa sempre corrigir aquilo que, às vezes, a gente erra, que foi a questão do passaporte [da vacina]. Não precisa obrigar as pessoas, para ir a uma igreja, ter que apresentar o passaporte, para ir a um bar, a um restaurante. Mas foi aqui nessa cidade que a gente ganhou o título de capital mundial da vacina. Eu tenho muito orgulho do que eu fiz e minha equipe [fez] com relação à pandemia", disse Nunes.
A sutileza, segundo quem convive com Nunes, é que ele não seria contra a vacina ou a obrigatoriedade dela, mas sim contra a exigência de apresentação do comprovante das doses para frequentar lugares públicos naquela época.
A equipe do prefeito já esperava que a mudança de posição de Nunes fosse trazida para o debate e, por isso, usou a oportunidade para resgatar o mote de "capital da vacina", que era considerado uma das vitrines da campanha do MDB.
Políticos ouvidos pela reportagem dizem que Nunes pinçou as palavras, tanto nos canais conservadores como no debate, para evitar se indispor com eleitores da direita e do centro.
No caso das entrevistas aos bolsonaristas, houve ensaio e preparação de duas horas, segundo aliados. O resultado, avaliam emedebistas, é que Nunes ficou no limite do aceitável.
Na entrevista a Figueiredo, o blogueiro exibiu um vídeo em que Nunes defende o uso de máscara, álcool em gel e isolamento social. "A questão da obrigatoriedade da vacina, [...] tenho humildade para falar isso, hoje eu sou contra", respondeu Nunes. Ex-secretários de Saúde rebateram o prefeito, dizendo que a medida foi necessária.
Outra estratégia de resposta avaliada pela campanha de Nunes, já que o assunto é vacina, é fustigar o governo Lula (PT), que apoia Boulos, a respeito do imunizante contra a dengue –o país enfrentou a pior epidemia da doença neste ano.
A escassez de vacinas na rede pública tornou o governo alvo de críticas e forçou o Ministério da Saúde a limitar a vacinação ao grupo de 10 a 14 anos.
Estrategistas das campanhas de Nunes e também de Boulos afirmam que o tema da vacina é especialmente sensível para o eleitorado, principalmente para os parentes dos 46 mil mortos pela Covid na cidade de São Paulo desde 2020, segundo dados da prefeitura.
Membros do PSOL dizem que as declarações de Nunes sobre a vacinação serão exploradas na redes sociais e possivelmente em propagandas de TV, como foi feito no debate.
"A vacinação foi tão importante na pandemia. E, agora, para agradar aliados políticos, ele diz que não defende mais. Fica mudando de posição na eleição", disse Boulos.
O deputado usou o episódio para criticar Nunes em duas frentes –pelo que considera negacionismo e pelo recuo do emedebista. Boulos também vem citando o caso do boletim de ocorrência registrado pela primeira-dama, que o prefeito admitiu e depois negou existir.
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