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quarta-feira, 21 de outubro de 2020

'Derrubado por pandemia', José Mujica, ex-presidente do Uruguai, deixa Senado

"Esta situação me obriga, com muito pesar, por minha profunda vocação política, a solicitar minha renúncia à cadeira que os cidadãos me concederam", escreveu Mujica


© Getty Images

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ex-presidente uruguaio José "Pepe" Mujica, 85, renunciou nesta terça-feira (20) a sua cadeira no Senado, em um gesto que marca sua aposentadoria de cargos públicos, mas não da política.

A pandemia de coronavírus precipitou a decisão do ex-presidente uruguaio, que governou o país de 2010 a 2015. Ele disse sofrer de uma doença autoimune e crônica, mas não revelou qual.

"Esta situação me obriga, com muito pesar, por minha profunda vocação política, a solicitar minha renúncia à cadeira que os cidadãos me concederam", escreveu Mujica, em uma carta lida em sessão extraordinária do Senado.

"Isto não significa o abandono da política, mas sim o abandono da primeira fila, por entender que um dirigente é aquele que dá vantagem às pessoas que o superam. Vou agradecido, com muitas recordações e profunda nostalgia. A pandemia me derrubou."

"Passei por tudo, mas não tenho ódio de ninguém. Quero transmitir aos jovens: é preciso agradecer à vida. Triunfar na vida não é ganhar. É levantar e recomeçar cada vez que se cai", disse o ex-mandatário, no discurso de despedida.

Ao votar nas eleições locais no Uruguai, em setembro, Mujica havia antecipado sua decisão. "A política me encanta e não queria ir embora, mas a vida me encanta mais. E como estou para sair, trato de esticar os minutos que restam", comentou.

"Estou para sair por questão de idade, porque tenho uma enfermidade imunológica crônica e a política obriga a ter relações sociais. Se tenho que me cuidar, não posso falar, não posso ir a um ou outro lugar, sou mau senador", disse Mujica.

Em 2018, ele havia renunciado a outro mandato como senador, alegando cansaço. No entanto, voltou a disputar a eleição no ano seguinte e retornou ao Senado uruguaio.

Mujica ganhou fama internacional enquanto presidente, entre 2010 e 2015, por dispensar vantagens do cargo, doar quase todo o salário e seguir com uma vida simples, morando em uma chácara nos arredores de Montevidéu, onde plantava flores. Em várias entrevistas, defendeu a valorização do ser humano e criticou o consumismo. Chegou a ser apelidado de "o presidente mais pobre do mundo".

Durante seu governo, foram aprovadas leis que permitiram o casamento gay, o aborto e a regulação da produção e consumo da maconha, em uma decisão considerada radical: o Estado passou a regular a venda do produto a consumidores cadastrados, como forma de combater o narcotráfico.

Na política externa, adotou postura pragmática e manteve relações tanto com a Venezuela de Hugo Chávez quanto com os EUA, sob comando de Barack Obama. Durante seu mandato, o Uruguai recebeu alguns prisioneiros libertados de Guantánamo.

No entanto, foi criticado por não conseguir avançar com uma reforma educacional e pela falência da companhia aérea uruguaia Pluna.

Mujica nasceu em 1935, nos arredores de Montevidéu, em uma família que tinha uma pequena fazenda. Seu pai morreu quando ele era criança, e ele começou a trabalhar cedo para ajudar a sustentar a casa.

Nos anos 1950, aproximou-se da política, por influência de um tio que era próximo de um deputado. No entanto, logo se desiludiu com a política tradicional e resolveu entrar para a luta armada. Na época, o Uruguai enfrentava uma dura crise econômica.

Mujica fez parte do Movimento de Libertação Nacional - Tupamaros, grupo de guerrilha urbana criado nos anos 1960 que defendia a melhora da condição de vida dos pobres. A atuação do movimento foi marcada por assaltos e sequestros, em ações que foram se tornando cada vez mais violentas até os anos 1970, quando o grupo foi sufocado pelos militares.

Ele comandava uma das "colunas" ou grupos semiautônomos que formavam o MLN. Uma das principais ações de que participou foi a chamada Tomada de Pando, cidade a 35 km de Montevidéu invadida pelos Tupamaros em 8 de outubro de 1969. O episódio deixou um civil, um policial e três guerrilheiros mortos.

Menos de um ano depois, Mujica quase morreu em um confronto com policiais em um bar, enquanto preparava o assalto a uma família rica de Montevidéu. Relatos dão conta de que ele tomou seis ou sete tiros, mas sobreviveu e acabou preso.

Em 1971, no entanto, ele fugiu da cadeia por um túnel, com mais de cem presos.

Detido novamente em 1972, ele foi mantido por mais de uma década sob duras condições de isolamento. Esse período é retratado no filme "Uma Noite de 12 Anos" (2018), dirigido por Álvaro Brechner. Ele era um dos considerados "reféns": caso os Tupamaros retomassem as atividades, ele e os companheiros presos poderiam ser mortos pelo governo.

Libertado após a anistia uruguaia, em 1985, ajudou a criar o MPP (Movimento de Participação Popular), que seria parte da coalizão Frente Ampla. Em 1994, foi eleito deputado por Montevidéu.

Na eleição seguinte, em 1999, tornou-se senador. Em 2005, após ter votação recorde para um novo mandato no Senado, foi nomeado ministro da Pecuária e Agricultura, cargo no qual esteve até 2008. No ano seguinte, conquistou a Presidência.

O Uruguai não permite reeleição contínua. Em 2015, Mujica passou o cargo a Tabaré Vazquez, também da Frente Ampla, que havia sido presidente antes dele. Depois de deixar a Presidência, foi eleito novamente senador e manteve a imagem despojada do político que anda em um Fusca azul celeste e quase nunca é visto de terno.

Nos últimos anos, Mujica seguiu debatendo e sugerindo alternativas para os rumos da esquerda no continente, após a ascensão de nomes de direita, como o de Jair Bolsonaro no Brasil. Em 2018, visitou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na prisão em Curitiba.

VIA...NOTÍCIAS AO MINUTO 

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