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segunda-feira, 26 de abril de 2021

Desaparecer na ditadura e nas redes sociais na era Covid inspira mostra em São Paulo

 

Desaparecer na ditadura e nas redes sociais na era Covid inspira mostra em São Paulo

© Heinz-Peter Bader/Reuters


Luvas sem seu par correspondente foram encontradas nas ruas pelo artista Thiago Honório durante um inverno. Lado a lado numa instalação, essas mãos fantasmagóricas, espécie de rastros de um corpo que já não está mais presente, evocam a discussão central da mostra "Táticas de Desaparecimento", no Paço das Artes -as contradições que se tornar invisível carrega.

Enquanto ações contra presos políticos durante a ditadura militar no Brasil, por exemplo, eram chamadas de práticas de desaparecimento, sumir também aparece como uma forma de resistência, como na expressão usada por Hakim Bey em "Zona Autônoma Temporária", de 1980, para definir organizações capazes de se infiltrar num determinado sistema, provocar mudanças, e desaparecer.


Na era da Covid, em que as redes sociais são dos poucos espaços de interação que nos sobraram, a ideia de ser invisível ganha mais uma camada de complexidade, e discute também o que significa estar presente numa tela de computador.


Essas provocações guiam as escolhas da curadora Nathalia Lavigne, que selecionou obras dos artistas artistas Aleta Valente, Maryam Monalisa Gharavi, Nino Cais, Sallisa Rosa, Regina Parra e Thiago Honório. Aberta no fim de fevereiro e fechada logo em seguida, "Táticas de Desaparecimento" reabre ao público neste fim de semana.


A curadora conta que o escândalo da Cambridge Analytica em 2018, em que a empresa de consultoria política envolvida na campanha presidencial de Donald Trump obteve acesso a dados pessoais de milhões de usuários do Facebook, foi um divisor de águas para pensar o desaparecimento no ambiente virtual.


"Logo quando apareceu o escândalo, muita gente saiu do Facebook, deletou seus dados. É um apagamento que partiu das redes sociais, mas o que vem depois disso é como lidar com essas plataformas como um espaço transitório", ela afirma.

O livro "BIO", da iraniana Maryam Monalisa Gharavi, se vale dessa ideia de transitoriedade nas redes. A obra parte de uma experiência da artista de mudar sua biografia no Twitter todos os dias por um ano -ela descobriu que essa era a única função da plataforma que não armazenava os dados do usuário. As frases, que escaparam do armazenamento da própria plataforma, formam esse livro físico e manipulável pelo público.


Uma espécie de materialização do virtual também está na série "Mise-en-Scène", de 2009, de Regina Parra. Ela reproduz em suas pinturas cenas capturadas por câmeras de vigilância que, apesar de parecerem um flagra, são encenadas.


"Isso tudo ganhou uma nova camada com a pandemia", afirma Lavigne. A mostra, que foi pensada antes das instituições culturais fecharem pela primeira vez, é a primeira da "Temporada de Projetos", programa que completa 25 anos e é famoso por revelar nomes promissores.


"Ela ganhou um outro aspecto, que é uma ideia de presença fragmentada, dessas relações mediadas por telas o tempo todo", diz a curadora. Essas mesmas redes sociais, que já eram um espaço de criação de trabalhos, também se tornaram a única plataforma de contato com a arte em boa parte desse ano pandêmico.

A artista carioca Aleta Valente, que já teve dois perfis do Instagram removidos por denúncias de usuários e não raro publicava selfies exibindo seu corpo, agora aparece num autorretrato completamente afundada em roupas, edredons e tecidos, jogada num colchão. Esse ocultamento do próprio corpo também está no trabalho de Nino Cais que, numa série de fotografias, cobre seu próprio rosto com uma blusa, também numa fragmentação de um retrato de si mesmo.
Em seu trabalho, Sallisa Rosa satiriza esse ambiente virtual, que é consequência da cultura dos centros urbanizados. Em "Identidade É Ficção", ela se retrata, por exemplo, com um telefone celular que parece ser um alimento, brincando com estereótipos da cultura indígena no país.


Mas não são só as selfies e as redes sociais que convocam o espírito desse ano de confinamento. A ausência dos corpos que eram os donos das luvas no trabalho de Thiago Honório, que já estiveram nas ruas e não se sabe para onde foram, também não deixa esquecer a incerteza dos que vão desaparecer e dos rastros que ficarão dessa pandemia.

TÁTICAS DE DESAPARECIMENTO
Quando Até 16/5. Qui. a dom.: 12h às 18h
Onde Paço das Artes (acesso pelo shopping Pátio Higienópolis) - av. Higienópolis, 618 ou r. Dr. Veiga Filho, 133, Higienópolis, São Paulo
Preço Gratuito
Curadoria Nathalia Lavigne

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