Crescimento de 0,1% no terceiro trimestre reforçou as apostas de analistas em um corte da taxa Selic; investidores também acompanharam o debate nos EUA sobre possível corte de juros em dezembro
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O dia foi marcado pela divulgação de um PIB (Produto Interno Bruto) mais fraco do que o esperado no terceiro trimestre. O resultado reforçou as apostas de analistas em um corte da taxa Selic, hoje em 15%, e estimulou o apetite por risco.
O Ibovespa, índice de referência do mercado acionário brasileiro, encerrou o dia em forte disparada de 1,66%, a 164.456 pontos, após atingir uma nova máxima histórica de 164.551 pontos. É a primeira vez que a Bolsa ultrapassa as marcas de 162, 163 e 164 mil pontos.
O maior apetite ao risco, porém, não teve grande efeito sobre o dólar, que encerrou o dia em leve queda de 0,07%, a R$ 5,310, em linha com moedas emergentes e influenciado por dados dos EUA.
Segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB continuou em desaceleração no terceiro trimestre deste ano, com leve avanço de 0,1% em relação aos três meses imediatamente anteriores.
O resultado indica uma relativa estabilidade da economia brasileira, após elevação de 0,3% no segundo trimestre e de 1,5% no primeiro. Analistas do mercado financeiro esperavam variação positiva de 0,2%, de acordo com a mediana das projeções coletadas pela agência Bloomberg.
A economia nacional abriu o ano de 2025 com o impulso da safra recorde de grãos, mas passou a dar sinais de desaceleração já no segundo trimestre.
Segundo Rafael Perez, economista da Suno Research, o PIB brasileiro vive três fases distintas em 2025. "Depois de um primeiro trimestre robusto, o segundo mostrou sinais evidentes de perda de tração, e o terceiro revela uma acomodação, sentindo os efeitos da política monetária e revelando uma desaceleração maior".
Para Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado, o crescimento próximo da estabilidade mostra que a taxa de juros brasileira está desacelerando a economia. "O crescimento mais lento da atividade econômica brasileira diminui os riscos inflacionários e aumenta um pouco a urgência para que o Copom volte a cortar juros."
Segundo Otávio Araújo, consultor sênior da Zero Markets Brasil, o dado reforça que o período de alta da Selic está se encerrando. "Sustenta a leitura de que o ciclo de aperto monetário está no fim, e, sendo assim, cresce a demanda por renda variável", afirma.
O Banco Central tem defendido manter a taxa atual, de 15%, por período prolongado. Em evento da XP Investimentos, em São Paulo, na segunda (1º), o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo afirmou que o mercado de trabalho brasileiro está aquecido, e que isso exige uma postura conservadora do BC.
O BC passou a defender juros contracionistas por "período bastante prolongado" em junho deste ano, quando fez sua última elevação da Selic. Em novembro, mantendo a Selic em 15% pela 3ª vez, a autarquia passou a demonstrar convicção de que esse patamar é adequado para cumprir a meta de inflação.
O alvo central perseguido pelo BC para a inflação é 3%. No modelo de meta contínua, o objetivo é considerado descumprido quando a inflação acumulada permanece por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto). O Banco Central volta a se reunir na próxima semana, nos dias 9 e 10.
No exterior, o foco esteve sobre dados econômicos dos EUA e as expectativas de corte de juros no país. Nesta quinta, o Departamento do Trabalho divulgou que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego estaduais somaram 191 mil na semana encerrada em 29 de novembro, ante expectativa de 220 mil de economistas consultados pela Reuters.
É o nível mais baixo desde setembro de 2022, o que sugere que o desempenho do mercado de trabalho americano não está tão fraco.
Na quarta, porém, um relatório de emprego da ADP referente a novembro mostrou que o setor privado teve a maior queda em mais de dois anos e meio durante o mês. Foram fechados 32 mil postos de trabalho em novembro, ante estimativa de economistas consultados de abertura de 10 mil postos de trabalho.
Para João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos, os números surpreenderam negativamente. "É uma queda bastante acentuada no número de empregos. O dado revela de que talvez haja um enfraquecimento um pouco maior do que o esperado nos EUA", afirma.
A decisão do Fed promete não ser consensual, ainda mais porque dados importantes não foram coletados por conta da paralisação dos EUA. O relatório "payroll", uma das métricas preferidas do Fed (Federal Reserve, banco central americano) para medir informações sobre empregos, está defasado e só será atualizado em 16 de dezembro, ou seja, após a reunião do BC americano na próxima quarta-feira (10).
O BC americano terá que focar em outros dados, como os já revelados e o PCE (Índice de Preços de Gastos com Consumo Pessoal) de setembro -divulgado nesta sexta (4).
"Não vai ter divulgação de novas informações oficiais em relação a emprego antes da decisão. Cresce a importância de dados regionais e de informações sobre o setor privado para o Fed calibrar sua leitura", diz Leonel Mattos, da StoneX.
A ferramenta FedWatch, do CME Group revela que investidores veem uma chance de 87% de que o banco central americano reduza a taxa de juros para 3,50% a 3,75%, em dezembro.
No mercado de câmbio, quanto maior o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, melhor para o real -e o inverso também vale.
Quando a taxa por lá cai -como ocorreu nas últimas reuniões do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano)- e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de "carry trade".
Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro. O aporte aqui implica na compra de reais, o que desvaloriza o dólar.
Para a renda variável, contudo, os efeitos de uma Selic alta não são tão positivos assim. A taxa de juros em 15% estimula a renda fixa, tradicionalmente mais segura por ter previsibilidade no retorno e baixo risco de calote. A sinalização de um fim de ciclo através dos dados do PIB aumenta o apetite ao risco e impulsiona a Bolsa, o que ajuda a explicar os recordes recentes.
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