Em palestra realizada na cidade de Gramado (RS), ele disse que a suspensão do edital foi um 'convite ao diálogo', o que causou indignação da plateia composta por profissionais da indústria audiovisual
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| © iStok / M Phillips 007 |
Durante a sua 47ª edição, porém, a portaria do governo, que determinou o cancelamento do edital para projetos sobe diversidade sexual criticado por Jair Bolsonaro (PSL), foi chamada de "convite ao diálogo" durante o tradicional evento do calendário cinematográfico.
A declaração foi feita pelo presidente da Ancine (Agência Nacional do Cinema), Christian de Castro, na manhã da última quarta-feira (21), em encontro do Gramado Film Market, parte da programação do festival, e indignou a plateia formada por profissionais da indústria audiovisual.
Após o cancelamento, o secretário especial da Cultura, Henrique Pires, deixou o cargo dizendo não admitir que o governo imponha "filtros" na cultura. Segundo ele, a suspensão do edital foi apenas a "gota d'água" de uma série de tentativas do governo de impor censura em atividades culturais.
O presidente da Ancine disse que o fim do edital se tratava de um "convite ao diálogo" após ser questionado pelo diretor de cinema Henrique de Freitas Lima. "Fiz uma intervenção e chamei atenção sobre a portaria. A resposta foi que ela deveria ser encarada como um convite ao diálogo", disse Lima à reportagem. O diretor já apresentou quinze filmes no festival e dirigiu títulos como "Concerto Campestre" (2005) e "Lua de Outubro" (2001).
O cineasta ainda questionou o que poderia ser feito, então, pelos profissionais. A resposta do presidente foi um pedido por menos "enfrentamento". As afirmações de Castro indignaram o público. "Me senti em um filme distópico. Diálogo pressupõe interação, que não existe, e respeito, que também anda escasso. É no mínimo perturbador ou, melhor, surpreendentemente inovador classificar essa portaria como uma proposta ao diálogo", disse à reportagem Mariza Leão, que produziu as comédias "Meu Passado me Condena" (2013) e a sequência "De Pernas pro Ar" (2010, 2012), e estava no encontro.
A produtora se manifestou em público dizendo que o presidente da Ancine, ao contrário do diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que saiu em defesa da ciência quando o governo disse que os dados não eram corretos, não defendeu o audiovisual brasileiro diante do cancelamento do edital. Em nota, a Ancine afirmou que "uma produtora presente no local, de forma desrespeitosa, interrompeu uma resposta do diretor-presidente com críticas e ofensas.
Imediatamente após se pronunciar, ela se retirou do recinto de forma abrupta, impossibilitando que Christian [Castro] respondesse as alegações". A nota ainda diz que "o diretor-presidente da Ancine se mostrou aberto ao diálogo durante toda a sua participação no festival". Lima também questionou sobre a as nomeações para o Conselho Superior de Cinema, do qual depende o Comitê Gestor do Fundo Setorial. Sem eles, a Ancine fica parada, prejudicando todo o setor.
A cota de tela, que define um percentual mínimo de filmes nacionais em cartaz, também está emperrada. Outros tópicos da apresentação de Castro causaram preocupação nos profissionais do setor. Um deles é a indicação de substituir o investimento (que faz da Ancine um tipo de "sócia" do projeto, participando dos resultados) por financiamento, ou seja, empréstimos."Isso seria inviável. É quase como um banco. O dinheiro do Fundo Setorial não é para isso. Não existe mercado para recuperar e devolve rum empréstimo", disse Lima.
O cineasta Rogério Rodrigues, que preside o Siav (Sindicato da Indústria Audiovisual do RS), concorda que se o investimento passar a funcionar como crédito, a indústria será prejudicada e discorda da ideia de que os filmes "não dão retorno"."O setor representou 0,46% do PIB. O audiovisual devolve muito mais do que o governo investe", argumenta Rodrigues.
Castro também apresentou o plano de investir mais nas empresas e menos nos projetos audiovisuais específicos. A ideia também causou estranheza entre os profissionais."Isso incomodou muito. O objetivo de qualquer proponente para realizar projeto não é investir na própria empresa, é investir no filme. Se o orçamento é de R$ 3 milhões, não queremos R$ 500.000 para empresa.
Tudo é para o filme, para pagar profissionais, câmeras, equipamentos. Por isso as empresas não são milionárias. O objetivo não é enriquecimento", disse Daniela Strack, assistente de direção e presidente da APTC/RS (Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos do RS".
Christian de Castro esteve no Festival de Cinema de Gramado apresentando a palestra intitulada "Ancine e FSA". Após a palestra, foi aberto espaço para perguntas e respostas, e Christian respondeu a todos os questionamentos propostos.
VIA...NOTÍCIAS AO MINUTO

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