Duas pessoas também vão responder por lesão corporal grave, e outras três foram indiciadas por lesão corporal leve.
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Duas pessoas também vão responder por lesão corporal grave, e outras três foram indiciadas por lesão corporal leve. Outras, ainda, responderão também por prevaricação (crime praticado por funcionário público quando deixa de cumprir seu dever funcional).
A investigação foi realizada pela 20ª DP (Via Isabel), que anunciou nesta terça-feira, 7, a conclusão do inquérito, enviado ao Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ), ao qual caberá denunciar os acusados, se considerar convincentes os indícios de autoria.
Em 30 de maio, a médica chegou em casa, na rua Marechal Jofre, após um plantão de 24 horas em hospital onde tratava doentes de covid-19, e não conseguiu dormir durante a tarde porque, na casa ao lado, seu vizinho Rafael Martins Presta, comerciante que completava 38 anos, comemorava seu aniversário em festa com convidados e música alta. Por conta da pandemia, aglomerações estão proibidas no Rio de Janeiro desde março, mas essa festa fazia troça com a proibição - usava até uma referência à covid-19 como tema de copos personalizados.
Ticyana diz ter tocado a campainha da casa e tentado pedir que o volume da música fosse reduzido. Mas foi ignorada, e então pegou um martelo e com ele quebrou um espelho retrovisor e trincou o vidro traseiro do carro (um Mini Cooper Paceman modelo 2014) do policial militar Luiz Eduardo dos Santos Salgueiro, um dos convidados da festa.
O vizinho e alguns convidados então saíram da casa. A médica tentou fugir correndo e pediu auxílio a um motoboy que passava pela rua, mas foi alcançada por Presta e um amigo. O vizinho da médica então a imobilizou, no meio da rua, e aplicou um golpe que causou o desmaio de Ticyana. Ela foi arrastada por Salgueiro, acordou e foi ameaçada e agredida por outros convidados da festa. As agressões foram testemunhadas por várias pessoas que não participavam do evento, inclusive bombeiros de um quartel que funciona em imóvel vizinho à casa de Presta.
Um outro vizinho de Ticyana foi o único a tentar intervir, impedindo a continuidade das agressões e ameaças, e acabou agredido por Rafael Pereira, outro convidado da festa. Imagens de câmeras de segurança e mesmo gravadas por testemunhas mostram as condutas dos envolvidos.
A médica foi socorrida após ter o joelho esquerdo quebrado e as mãos pisoteadas. Em 13 de junho ela se submeteu a cirurgia que instalou dois parafusos no joelho. Tirou o gesso no dia 25, e até agora o movimento do joelho não voltou ao normal - e não existe garantia de que voltará. Por isso, segue sem trabalhar, e como ganhava por plantão (não tinha emprego fixo) está também sem salário. Ticyana tem um filho de dois anos e dez meses.
Como Ticyana já está há mais de 30 dias incapacitada de praticar as atividades de rotina, conforme comprovou exame feito no Instituto Médico Legal, o delegado André Neves, responsável pela investigação do caso, indiciou Presta e Rafael Pereira por lesão corporal de natureza grave, cuja pena varia de um a cinco anos de prisão. Se o problema no joelho se tornar permanente, a acusação poderá ser alterada para lesão corporal de natureza gravíssima, com pena de dois a oito anos de prisão.
Como, entre os convidados, havia policiais civis e militares que nada fizeram para impedir as agressões, esses agentes foram indiciados por prevaricação, assim como os bombeiros que estavam no quartel, testemunharam as agressões e não intervieram. Segundo a Polícia Civil, as corregedorias da Polícia Civil, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros foram notificadas para abertura de procedimento disciplinar contra os agentes acusados de prevaricação.
A médica afirmou à TV Globo ter ficado satisfeita com a investigação: "Todos foram rapidamente identificados, então eu vejo que o trabalho da polícia foi muito bem feito e espero que isso realmente se reflita depois com a justiça sendo feita ao final do processo."
O Estadão tentou localizar os indiciados ou seus representantes, mas não havia conseguido falar com nenhum deles até a publicação desta reportagem. O espaço está aberto para as defesas.
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