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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Drunkorexia: a doença que mistura de transtorno alimentar com álcool

Drunkorexia é a restrição alimentar diante da possibilidade de ingestão de bebida alcoólica

@ iStok / PhotoBylove
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quando os pais de Renata, 57 (nome fictício), morreram, ela ficou deprimida e começou a comer compulsivamente. Passou dos 80 kg para os 130 kg e não saiu de casa por cinco anos, até que fez uma cirurgia bariátrica. Mas, após a cirurgia, ela passou a induzir o vômito porque achava que a comida não descia direito e trocou a comida pelo álcool. Renata então desenvolveu drunkorexia.

Os casos mais comuns do que pode se chamar de drunkorexia são de restrição alimentar diante da possibilidade de ingestão de bebida alcoólica (para reduzir a quantidade de calorias ingeridas ou para que o álcool faça efeito mais rápido), ingestão de bebidas alcoólicas seguida de indução de vômito e a tentativa de compensar, por meio de excesso de exercícios, o álcool consumido. 
Há cinco anos, Renata faz acompanhamento psicológico e frequenta reuniões dos AA (Alcoólatras Anônimos). Também passou a liderar um grupo feminino do AA na zona norte da cidade de São Paulo. 
Segundo a psicóloga que acompanha Renata, ela migrou da compulsão de comer para a de beber. A possibilidade de restrição do apetite proporcionada pelas bebidas acabou levando-a ao alcoolismo, e os vômitos provocados após refeições agravaram ainda mais o quadro. De repente, alguém que chegou a pesar 130 kg se viu com 47 kg. 
A drunkorexia não é oficialmente uma doença e não consta no DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, em português). Entretanto, a co-ocorrência de dois transtornos previstos no manual levou especialistas a questionarem se não há particularidades suficientes nessa condição para que ela seja catalogada como um novo tipo de transtorno mental. 
Segundo Maria Del Rosário de Alonso, médica nutróloga e diretora do Departamento de Transtornos do Comportamento Alimentar da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), o uso abusivo de álcool combinado com transtornos alimentares já não é mais visto como duas coisas separadas.
Um grupo de pesquisadores do departamento de psicologia da Universidade do Sul da Flórida, nos EUA, sugeriu em junho de 2018 a catalogação do termo FAD (Food and Alcohol Disturbance), algo como distúrbio alimentar e alcoólico em português.
Já a diretora da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), Maria de Fatima Viana de Vasconcellos, acredita que não há por que catalogar a drunkorexia como um novo transtorno. "Nós tratamos essas condições como alteração de comportamento. São comportamentos nocivos. É um problema de saúde, mas ainda não representa um quadro clínico, embora faça mal e precise ser tratado. O que caracteriza o transtorno alimentar é alteração da imagem corporal", diz. 
Um estudo realizado por pesquisadores de três universidades italianas em 2018 revela que 62,5% dos 403 participantes (entre 14 e 24 anos) adotavam métodos extremos de controle de peso diante da possibilidade de ingerir bebidas alcoólicas. Outros estudos, publicados nos EUA entre 2015 e 2017, apontam que pelo menos um terço dos estudantes universitários deixa de comer nos dias em que planejam beber. 
É o caso da brasileira Luisa Cullinan, 26, que vive nos EUA e tinha bulimia. Em 2012, chegou a ser internada com guna (gengivite ulcerativa necrosante aguda), uma infecção das gengivas que também pode ocorrer em pessoas com diagnóstico de bulimia. Por causa da internação, a família soube que ela tinha o transtorno alimentar. "Pelo trauma da internação, nunca mais forcei o vômito."
A compulsão pelo vômito após comer, porém, foi substituída pelo álcool. "Em 2013 eu comia muito mal e bebia muito. Acho que é porque estava na faculdade, um ambiente que inspira isso, mas também porque não sentia fome quando bebia", relata. 
Mais tarde, o álcool deu lugar a dietas. O que começou com restrição a alimentos calóricos e duas horas diárias de academia se tornou algo maior: ortorexia, uma obsessão pela alimentação saudável.
Assim como a drunkorexia, a ortorexia também não é um transtorno catalogado no DSM. Luisa diz que às vezes demorava duas horas para escolher um lugar para comer com amigos ou com o marido e se isolou cada vez mais da vida social. 
"Eu achava que estava sendo saudável. Tinha pavor de comer carboidrato não só por medo de engordar, mas porque achava que se comesse carboidrato teria diabetes um dia. Eu tinha um medo de não ser saudável. Só conseguia comer confortavelmente as coisas que eu cozinhava porque eu sabia como eu tinha preparado. Se qualquer outra pessoa cozinhasse para mim, eu ficava estressada, nervosa. Comecei a fazer jejum intermitente, a juntar uma dieta em cima da outra. Não tinha mais energia e estava sempre irritada." 
Vasconcellos explica que a ortorexia pode levar à deficiência de algumas vitaminas e ao consumo em excesso de outras, desencadeando, por exemplo, problemas intestinais e perda de peso. 
A preocupação com a alimentação supostamente saudável pode levar a quadros depressivos, devido ao isolamento social e à ansiedade diante da impossibilidade de controlar a alimentação. "É muito sofrido sentar no restaurante para dividir uma pizza com as pessoas e seu coração parecer que vai sair pela boca", conta  Luisa. 
O tratamento para drunkorexia e ortorexia é feito por meio de psicoterapia. Vasconcellos aponta que essas condições, por serem alterações de comportamento, requerem atenção para a origem do problema. Em muitos casos as compulsões nascem após momentos de crise que levam o paciente a buscar distrações para para fugir das dificuldades. Esse pode ser o gatilho para o desenvolvimento de transtornos mentais, alimentares e alcoólicos.
Em ambos os casos, o tratamento passa pela compreensão das razões pelas quais a pessoa bebe em excesso, deixa de comer ou age para tentar mitigar o consumo de calorias. No caso da drunkorexia, é comum, segundo Vasconcellos, associar o tratamento a reuniões dos AA. 
Com a perda de peso e o excesso de exercícios, Luisa desenvolveu amenorreia hipotalâmica, doença que interrompe a menstruação. Há três anos a jovem não menstrua. Agora, ela faz tratamento psicoterápico e está tentando ganhar peso, tudo isso enquanto mantém um canal no YouTube com seu nome para falar sobre transtornos alimentares e contar sua história.
VIA...NOTÍCIAS AO MINUTO

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