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domingo, 12 de junho de 2022

'Ele não tem qualquer envolvimento', diz irmão de suspeito preso no Amazonas

Desde a prisão de um de seus moradores –Amarildo Oliveira, o Pelado–, a vila onde vivem dez famílias foi perdendo vida, com as casas trancadas.

© Getty


(FOLHAPRESS) - A pequena comunidade de São Gabriel, formada por casas de palafita enfileiradas na margem do rio Itaquaí, ficou vazia ao longo da semana. Desde a prisão de um de seus moradores –Amarildo Oliveira, o Pelado–, a vila onde vivem dez famílias foi perdendo vida, com as casas trancadas.

Em São Gabriel, na região do Vale do Javari (AM), um dos lugares mais preservados da Amazônia, quase todo mundo é parente. Pelado foi preso no começo da semana sob suspeita de envolvimento no desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. A dupla não é vista desde 5 de junho.

Aos poucos, a mãe, irmãos e parentes de Pelado foram se deslocando de barco para Atalaia do Norte (AM), a cidade onde Pereira e Phillips deveriam ter chegado há uma semana. Pelado está detido numa carceragem na cidade, e os parentes se deslocaram ao município para acompanhar os desdobramentos do caso.

A Justiça determinou uma prisão temporária de 30 dias, em razão da suspeita de que Pelado pode ter envolvimento no desaparecimento.

Na tarde deste sábado (11), a reportagem esteve na comunidade. O padrasto e um irmão de Pelado, Eliclei Costa de Oliveira, de 31 anos, permaneceram no local. Eliclei, conhecido por Sirinha, disse não acreditar que Pelado tenha participação no desaparecimento.

"Não acredito que meu irmão tenha envolvimento em alguma coisa disso."
Segundo Sirinha, Pelado estava escovando os dentes quando a embarcação com Pereira e Phillips "baixou" o rio. "Ele não saiu [em uma embarcação logo atrás]", afirmou, contrariando a versão de testemunhas que apontaram uma perseguição de Pelado em direção ao barco dos desaparecidos.

As famílias em São Gabriel vivem da pesca; de plantações de mandioca, limão, mamão e melancia; e da criação de porco. De acordo com Sirinha, a realidade é a mesma de todos que vivem na comunidade.

O ponto onde está a comunidade fica a menos de uma hora do posto de fiscalização da Funai (Fundação Nacional do Índio), que é a porta de entrada para a terra indígena Vale do Javari, considerada a segunda maior do Brasil.
O local é marcado por intensas atividades de pesca ilegal, e há um cenário de conflitos e tensão entre pescadores e agentes a serviço da fiscalização ambiental e da defesa do território indígena. A pesca ilegal envolve principalmente o pirarucu.

Esse é um dos pontos da investigação sobre o desaparecimento de Phillips e Pereira, servidor licenciado da Funai e atualmente colaborador da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari).

"Eu vi o Bruno [Pereira, indigenista desaparecido] uma única vez, lá em cima. Eu estava pescando tambaqui. Ele estava fiscalizando. Só perguntou se eu estava bem, se estava pescando", disse Sirinha. "O Bruno não parava aqui. Ele seguia até lá em cima, nas comunidades indígenas."

O pescador afirmou que o irmão não tinha armamento proibido, como relatado pela polícia. "Aqui eles apreenderam 'chumbinho' e uma capa de cartucho calibre 16." Pelado não participou de episódios de troca de tiros com a polícia e não tem armas, segundo o irmão. Policiais militares fazem relatos de trocas de tiro com Pelado em razão de flagrantes de pesca ilegal.

"Ele estava capinando uma roça com bastante mamão que temos. Além disso, a gente aqui vive principalmente da pesca", afirmou Sirinha. "Meu irmão vai sair da prisão, ele é inocente."

Sirinha disse ainda que Pelado sofreu agressão de policiais no momento da prisão. Segundo o relato feito, o irmão foi levado para um igarapé e sofreu afogamentos e agressões. "Bateram bastante nele. Ficaram julgando ele, para que ele falasse algo. Saiu de lá apagado."

Houve impedimento de que filmassem a prisão pelo celular, ainda segundo o relato de Sirinha. "Em Atalaia, ele não conseguia nem sair da 'baleeira' [embarcação]. Chegou todo roxo, massacraram ele bastante."
O relato de agressão e tortura contra Pelado consta na ata da audiência na qual a juíza titular da cidade, Jacinta Silva dos Santos, decretou sua prisão temporária.

Na ocasião, ele relatou que policiais o agrediram, usaram uma sacola em sua cabeça para sufocá-lo e que chegou a desmaiar na lancha que o transportou à cidade.

Os relatórios produzidos pela Univaja sobre a fiscalização na terra indígena, por sua vez, apontam para um histórico de atritos entre a entidade e os pescadores da região, entre eles pessoas indentificadas como Pelado e Sirinha.
Num ofício encaminhado em abril à Funai à Força Nacional, a Univaja aponta que um morador de São Gabriel conhecido como Pelado estava "com outros quatro ou cinco infratores pescando no interior da terra indígena."
"'Pelado' tem sido apontado como um dos autores dos diversos atentados com arma de fogo contra a base de proteção da Funai entre 2018 e 2019", diz a entidade no documento .

O irmão de Pelado nasceu na terra indígena, quando ainda não havia demarcação do território, ocorrida em 2001.
Muitos dos ribeirinhos que estão nas comunidades que margeiam o rio Itaquaí foram deslocados da terra indígena a partir do momento da demarcação da área contínua.
"Eu nasci na terra indígena. Só fui entender o que havia fora quando saí após a demarcação", disse Sirinha.

Sobre o que ocorreu com Pereira e Phillips, ele afirmou: "Isso nunca aconteceu aqui. Um sumiço desse, que não deixou vestígio... Não sei o que aconteceu".
A PF afirmou na quinta (9) que encontrou vestígio de sangue no barco de Pelado. O material será cruzado com elementos de DNA de Pereira e Phillips.
Equipes de busca localizaram no rio Itaquaí, nas proximidades do porto de Atalaia do Norte, material orgânico aparentemente humano, também encaminhado para perícia.

Antes da decretação da prisão temporária, Pelado já havia sido detido, mas sob acusação de manter munição de fuzil e calibre 16, que são de uso restrito.

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