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segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Ação de despejo em meio a pandemia leva tensão a acampamento do MST

O MST afirma que a PM destruiu casas e lavouras com duas décadas de história com aval do governador Zema

© Shutterstock - imagem ilustrativa

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - Uma ação de reintegração de posse resultou em tensão e feridos em uma área invadida por um grupo do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em Campo do Meio (MG).
O imbróglio no chamado Quilombo Campo Grande opôs a Polícia Militar, um grupo de sem-terra criticando a PM e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e terminou com policiais e agricultores feridos e a saída dos sem-terra do local.
No total, 450 famílias ligadas ao MST moram na área da fazenda Ariadnópolis, mas a ação de reintegração foi de uma área menor, de cerca de 52 hectares, onde viviam seis famílias, segundo a polícia. O MST fala que são 14.
A área invadida pertencia à usina da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo, que faliu na década de 1990 e não pagou direitos trabalhistas, e é alvo de uma disputa que se arrasta desde então entre a dona da terra e o MST. Mais de um terço das famílias é de ex-empregados da usina.
A tensão começou na última quarta-feira (12), com a chegada de um oficial de Justiça e da PM para o cumprimento da decisão. Os sem-terra se recusaram a deixar o local e montaram barricadas para impedir o avanço policial.
O grupo montou ao menos três barreiras com entulhos, madeira e pneus numa estrada de terra, mas a PM usou bombas de efeito moral e avançou sobre os invasores na sexta-feira (14), que recuaram.
Vídeos divulgados pela PM mostram policiais efetuando disparos não letais para o alto e o avanço da tropa de choque. A vegetação no entorno da estrada foi incendiada e o fogo se propagou rapidamente com a estiagem típica do inverno. O Corpo de Bombeiros foi acionado para debelar os focos de incêndio.
Na quinta-feira, três PMs precisaram de socorro médico após inalarem fumaça e, no dia seguinte, ao menos um policial se feriu na ação de reintegração. Um integrante do MST passou mal, mas já se recuperou.
Quatro moradores da área chegaram a ser detidos por desobediência, mas foram liberados. A saída do grupo ocorreu após 56 horas de resistência.
Os sem-terra alegam que estão há muito tempo no local e já teriam direito a usucapião, além de estarem numa terra que antes não tinha fim social.
Repleta de construções de alvenaria –mais de 400–, a área total é utilizada pelo MST para o cultivo de cerca de 2 milhões de pés de café, além de hortas orgânicas e a criação de gado.
Moram no local cerca de 1.800 pessoas, distribuídas em 11 acampamentos que têm tamanho total de 3.880 hectares (o equivalente a 5.434 campos de futebol). Em média, cada lote tem cerca de oito hectares (11,2 campos de futebol).
Segundo um laudo produzido a partir de dados de instituições como a Secretaria do Estado do Desenvolvimento Agrário e a Unifal (Universidade Federal de Alfenas), 142 das famílias que moravam no local há dois anos incluíam trabalhadores da antiga usina.
O MST afirma que a PM destruiu casas e lavouras com duas décadas de história com aval do governador Zema.
O movimento chamou o despejo de violento e disse que, em meio à pandemia, "Zema colocou a vida e a saúde de milhares de pessoas em risco, demonstrando o seu descaso com o povo, mostrando sua face covarde e criminosa".
"Foram três dias de tensão, violações de direitos humanos e solicitações para que o governador Romeu Zema suspendesse a ação policial. A mobilização do aparato policial promoveu aglomeração expondo não somente as famílias sem-terra, mas também toda a população da região à propagação do coronavírus, inclusive grávidas, idosos e outras pessoas do grupo de risco", diz o MST.
Ainda conforme o movimento, a operação policial foi além dos 52 hectares determinados pela liminar e destruiu casas e lavouras de sete famílias.
No local, além do desmanche das construções da área invadida, uma antiga escola foi demolida. Segundo o MST, as famílias despejadas serão distribuídas em outros lotes e a escola será reconstruída. O movimento recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Arcebispo de Belo Horizonte e presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Walmor Oliveira de Azevedo enviou uma comissão para se solidarizar com as famílias e disse que a ordem de reintegração foi "executada inoportunamente", em virtude da pandemia.
"A Igreja Católica, por sua diocese da Campanha, responsável pelos trabalhos de evangelização na cidade de Campo do Meio, está junto das famílias, com ajuda espiritual, emergencial e solidária, enquanto se empenha no diálogo para preservar a paz social e a conquista inegociável da dignidade de todos, interpelando autoridades governamentais e judiciais, bem como a opinião pública", diz comunicado da arquidiocese.
Zema, via assessoria, disse que a Secretaria de Desenvolvimento Social enviou manifestação com outras entidades, como a comissão de direitos humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), pedindo a suspensão do cumprimento da liminar enquanto durasse a pandemia, mas o pedido não foi aceito.
Segundo o governador, a PM foi ao local dar suporte à ação do oficial de Justiça que cumpriria a decisão de reintegração.
Já a Polícia Militar, em vídeos feitos no local, citou agressividade dos membros do MST e risco aos policiais e a outras pessoas, como conselheiros tutelares.
Porta-voz da PM, o major Flavio Santiago disse em um deles que o MST ateou fogo numa área durante o processo de negociação e que a corporação teve também o trabalho de combater fake news propagadas em relação à ação de reintegração.
A Folha não conseguiu contato com os proprietários da área.
Não é a primeira vez que a propriedade rural é alvo de uma ação de reintegração de posse. Em novembro de 2018, a Justiça tinha determinado a reintegração de área da antiga usina Ariadnópolis, mas o Tribunal de Justiça de Minas Gerais suspendeu a reintegração.
VIA...NOTÍCIAS AO MINUTO

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